Andrea Beltrão estreia nos palcos de Uberlândia com monólogo potente sobre o diário de advogada na ditadura: ‘Uma mulher extraordinária’
08/07/2025
(Foto: Reprodução) ‘Lady Tempestade’ estará em cartaz nos dias 12 e 13 de julho, no Teatro Municipal, pelo projeto “Uberlândia na Rota das Culturas”. Ao g1, a atriz ressaltou que a história de Mércia Albuquerque fala sobre coragem, justiça, levanta reflexões e desperta conexões pessoais em quem assiste. No monólogo "Lady Tempestade", Andrea Beltrão interpreta A., que recebe os manuscritos de Mércia Albuquerque
Nana Moraes/Divulgação
Um diário que resgata memórias de uma mulher marcante em um período decisivo da história do país. O trabalho da advogada e professora pernambucana Mércia Albuquerque na defesa de presos políticos durante a ditadura militar é o fio condutor de “Lady Tempestade”, peça que estará em cartaz em Uberlândia neste fim de semana. O monólogo é interpretado por Andrea Beltrão, que se apresenta na cidade pela primeira vez.
“Nunca me apresentei no Teatro Municipal de vocês, que é lindo, do Oscar Niemeyer, uma joia. Vai ser lindo, um barato fazer teatro aí”, contou a atriz em entrevista ao g1.
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O espetáculo, com direção de Yara de Novaes e texto da dramaturga Silvia Gomez, chega à cidade mineira pelo projeto “Uberlândia na Rota das Culturas”. Serão três sessões: às 17h e 20h no sábado (12) e às 17h no domingo (13). Veja abaixo como garantir seu ingresso.
Diários de uma mulher corajosa e movida por justiça
Em “Lady Tempestade”, a personagem interpretada por Beltrão é identificada apenas como A. Ela se vê profundamente tocada pelos relatos de sofrimento, injustiças e violência ao receber os manuscritos de Mércia sobre o período da ditadura. Considerada a maior advogada nordestina na defesa de presos políticos, estima-se que Mércia tenha atuado em mais de 500 casos entre 1973 e 1974. Segundo Andrea, mais do que uma questão ideológica, o que movia Albuquerque era a busca por justiça.
“É a história de uma mulher extraordinária, corajosa, muito livre. Ela dizia ‘eu cuido dos presos, os políticos, os comuns, os que não têm nada e só podem me pagar uma galinha. Eu não quero saber se a pessoa é de direita ou de esquerda, isso não importa. Se não tem defesa, eu me ofereço para defender’. Ela nunca se filiou a partido nenhum e sempre esteve na luta, do lado certo”, contou.
A peça já foi indicada a três categorias do Prêmio Shell de Teatro, uma das mais importantes premiações do país. Andrea ressalta que a história convida à reflexão sobre o cenário político passado e atual, mas também desperta conexões pessoais em quem assiste.
“Essa peça tocou em muitos pontos. A questão da mulher, das mães solo, das mães que perdem seus filhos até hoje, ontem, anteontem, toda hora, todo dia. Tem uma fala da peça que a Mércia diz assim para um gafanhoto, que é como ela chama os agentes de tortura, que tinha acabado de dar um tapa nela: ‘um dia essa ditadura vai acabar e a gente vai se encontrar sabe onde? No tribunal!’ É uma imagem tão concreta do que a gente viveu, tá vivendo e ainda poderá viver, Deus me livre”, detalhou.
Andrea Beltrão diz admirar, mas não mantém o hábito de escrever diário
Nana Moraes/Divulgação
O diário de um diário
O nome “Lady Tempestade” vem de uma frase da própria Mércia: “Minha mãe é bonança. Eu, tempestade.” Ao narrar os manuscritos da advogada pernambucana, a personagem A. entrelaça suas próprias vivências, transformando a peça em uma espécie de “diário de um diário” — uma prática que Andréa Beltrão admira, mas não mantém.
“Eu já escrevi muitos diários e, como eu digo na peça, eu queimei todos eles. Eu acho isso lindo, mas não consigo essa disciplina. É importante, é um exercício de vida você sentar e dedicar um momento para você, em silêncio, escrever alguma coisa. Mas não é sempre. E, se eu fizer, vou tratar de apagar tudo antes de eu ir para o segundo andar”, contou entre risos.
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Andrea Beltrão é atriz, produtora e diretora. Estreou nas novelas em 1984, com “Corpo a Corpo”, mas ganhou destaque nacional como a Zelda de “Armação Ilimitada”, em 1985, e como a Tônia de “Mulheres de Areia”, em 1993.
O grande público também a reconhece pelo humor: viveu a Sueli em “Tapas e Beijos” ao lado de Fernanda Torres por quatro anos. Esteve ainda por sete anos em “A Grande Família”, como a irreverente Marilda. No cinema, interpretou Hebe Camargo no filme “Hebe: A Estrela do Brasil”.
Agora à frente de uma trama sensível e intensa, Andrea convida o público de Uberlândia a conhecer a história de “Lady Tempestade”.
“Mércia é uma mulher absolutamente apaixonante. Obediente às coisas importantes, não obediente aos homens mesquinhos e alucinados. Uma mulher muito valente, interessante, mas com medos, dúvidas e incertezas, porque apenas convicções e certezas não ajudam muita gente. A Mércia Albuquerque, como figura cativante que é, vai saber contar a história dela aí em Uberlândia”, encerrou.
Serviço
Quando: 12 e 13 de julho
Horários: 17h e 20h no sábado; 17h no domingo
Local: Teatro Municipal de Uberlândia
Ingressos: À venda online pelo site Mega Bilheteria, com valores entre R$ 42 e R$ 16
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